No final do ano passado, a Nestlé inaugurou no município de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, a primeira fábrica para produção de cápsulas Nescafé Dolce Gusto fora da Europa. A unidade utiliza café 100% brasileiro, além de outras matérias-primas nacionais como leite, cacau e açúcar.
Entre outros motivos, a instalação da nova fábrica deve-se ao fato do Brasil ser o maior produtor e exportador mundial de café e o segundo maior consumidor do produto. Nosso parque cafeeiro atual é estimado em 2,25 milhões de hectares e são aproximadamente 287 mil produtores, em 1900 municípios, concentrados principalmente nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia, Paraná e Goiás.
A relação do país com o café é antiga e essa matéria prima já foi a principal base da nossa economia, durante o período conhecido como economia cafeeira, que durou entre os anos de 1840 e 1930. Saiba mais: 10 curiosidades sobre a produção do café brasileiro Patrocinado
Quando chegou ao Brasil, no século XVIII, o café era somente um produto artesanal. No começo do século seguinte, ele passou a ser produzido para exportação e, principalmente a partir da década de 1830, passou a ser central em nossa economia.
Além do solo e clima adequados, alguns fatores contribuíram para a proeminência do Brasil na produção e exportação de café. O Haiti, que até o começo do século XIX era o principal produtor mundial, passou por uma Guerra Civil, o que abriu espaço ao crescimento das exportações brasileiras. Além disso, tínhamos infraestrutura pronta, com portos e estradas da época da mineração, mão de obra escrava disponível e a atividade exigia um investimento de capital relativamente baixo.
O ciclo do café trouxe consequências imediatas ao país. A primeira delas foi o crescimento da mão de obra livre, estimulado principalmente pela assinatura, em 1850, da Lei Eusébio de Queiroz, que colocava fim ao tráfico negreiro, e pela atração de mão de obra imigrante em razão do dinheiro advindo da exportação do café.
Houve também a manutenção do sistema de plantation, modelo de produção agrícola baseado na monocultura, em grandes propriedades, na agroexportação e, ainda, no escravismo.
Neste período, houve um surto industrial no Brasil (conhecido como Era Mauá), protagonizado pelo político e industrial Barão de Mauá. Ele se aproveitou da circulação de dinheiro que havia no país por conta da exportação de café e de leis que estabeleciam uma política protecionista, taxando importações, para investir em bancos, ferrovias, indústria têxtil e, principalmente, siderurgia, com produção de barcos, pontes e tubulações de ferro.
Essas iniciativas de desenvolvimento industrial, no entanto, foram boicotadas pela elite agrária que governava o país e não tinha interesse em entrar em conflito com os parceiros comerciais europeus, principalmente a Inglaterra, que comprava produtos primários brasileiros em troca de nos vender produtos industrializados.
Como consequência desta mentalidade econômica conservadora, foi decretada a Lei Silva Ferraz, de 1860, que reorganizou a cobrança das tarifas alfandegárias, dificultando a competição com os produtos importados, cujas taxas para entrada no país foram reduzidas.
Apesar do Brasil possuir a maior parte da oferta do produto, podendo exercer algum controle sobre os preços, o crescimento da economia cafeeira dependia do crescimento populacional dos países para os quais exportava. Assim, a oferta começou a se tornar maior do que a demanda, levando a uma redução gradual dos preços. Com a crise de 1929 nos Estados Unidos, a demanda diminuiu ainda mais, o que causou uma quebra da economia cafeeira da época.
Artigo produzido por Percurso Pré-Vestibular e Enem
Fonte: em.com.br